Dia Mundial do Trabalhador

“1º de maio é dia de luta pela vida da classe trabalhadora”, (CFESS, 2021)

É com esta frase do Conselho Federal de Serviço Social que inicio nossa reflexão de hoje.

Celebrada em diversos países do mundo a data remonta o movimento da classe trabalhadora no ano de 1886 na cidade de Chicago, que espalhou pelo país greves que reivindicavam redução da carga horária das/os trabalhadoras/es industriais.

A Revolução industrial ao final do século XIX fomentou a transformação das grandes cidades, impactando as relações sociais e geográficas, pois trabalhadores vinham de todas as partes, gerando uma concentração de pessoas, pois para a expansão da indústria era necessário o proletariado.

O momento era delicado, pois os trabalhadores eram submetidos às jornadas exaustivas de 15 a 18 horas de trabalho diários, em condições precárias. O interesse da burguesia no acúmulo das riquezas explorava os trabalhadores, perpetuando o lucro antecedente à vida. Semelhança com o presente?

Mas o que mudou do século XIX para o atual? É neste momento que retomo a frase do CFESS, a urgência em analisarmos quais as condições de vida e trabalho da classe proletária na atual conjuntura.

A luta do 1º de maio existe para cobrar direitos para aqueles que vendem sua força de trabalho e estão excluídos da riqueza socialmente produzida. Nós que vendemos todos os dias nossa forma de trabalho e ainda presenciamos o esfacelamento dos nossos poucos direitos conquistados, uma luta muito cara para a classe trabalhadora do Brasil.

Fomos submetidos às reformas trabalhistas como a que ocorreu no governo Temer em 2017 e a de 2020 no governo Bolsonaro, tais reformas minaram os direitos dos trabalhadores, favorecendo apenas empregadores e, como se não bastasse, possibilitou o enfraquecimento dos sindicatos. Um desmonte assustador que, além de tirar direitos do povo, limita a atuação dos sindicatos, setor que luta ao lado da classe para garantias de direitos que preservam a vida e buscam por condições de equalização na entrega da força de trabalho e a compensação justa.

É até contraditório falar em compensação justa, ao passo que consideramos que justo é a igualdade na divisão das riquezas socialmente produzidas, pois como nos aponta Marx, o trabalhador é quem sustenta a economia: “A classe trabalhadora é assim explorada para sustentar uma miserável população fabril…” (O Capital, Boitempo, 2013), e nos é negada a divisão igualitária, expondo-nos á exploração que mantém este sistema nefasto, contínuo.

Grandes estratégias de perpetuação do sistema exploratório são lançadas no cotidiano de forma sutil, que se tornam indubitavelmente manejos da burguesia em seguir garantindo que a riqueza permaneça na mão da minoria. Estratégias tão discretas que, por vezes, reproduzimos sem reflexão da real intencionalidade.

A revista Carta Capital faz uma discussão sobre o termo “colaborador”, que é apresentado ao trabalhador como se o equiparasse ao status do empregador. Óbvio que o termo é apresentado de maneira romantizada – “o sucesso da empresa também é devido aos colaboradores”, uma tática de atenuar a hierarquia entre empregadores e trabalhadores.

Alude que que somos “colaboradores” estamos em um grau de reconhecimento por parte do empregador. Este movimento coloca o trabalhador em declínio no momento de luta coletivamente por direitos, ora, “Este empregador reconhece meu trabalho”! – estratégia de manobra do sistema para enfraquecimento de consciência coletiva.

Manter sempre a solidariedade de classe e a consciência de que somos Classe Trabalhadora, fortalece a luta por direitos, pois nos remetemos a ideia de que somente através da união é possível a queda deste sistema perverso, que submete a sociedade a jornadas insanas, impedindo o trabalhador à reflexão e participação.

Que neste 1º de maio de 2024, ano em que o feriado no Brasil completa 100 anos de reconhecimento da data, seja rememorada a conquista da data como resultado da mobilização de grupos organizados de trabalhadores do Rio de Janeiro e São Paulo, desde o ano de 1910 e que se consolidou em 1924, com protestos que requeriam condições dignas de trabalho, que a data seja para nós trabalhadoras/es contemporâneas/os, mote para levantarmos e avaliarmos quais espaços devemos ocupar e reclamar melhorias das condições de trabalho no Brasil.

Não vamos suavizar as situações de trabalhos sem precedência de direitos, não vamos silenciar também com as ausências de trabalho, de trabalho digno para toda a população, não esqueçamos que a reivindicação coletiva se aproxima da conquista e a conquista da emancipação humana.

Luciane Dias
Assistente Social

Referências Bibliográficas:

Capital, Carta. O Trabalhador não é colaborador. 2024. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/daniel-camargos/trabalhador-nao-e-colaborador/

CFESS. 2021. Disponível em: https://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1802

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

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